Não importava agora o que eu havia dito, já estava feito agora, tudo que eu precisava era sair daquela casa antes que atrapalhasse mais ainda os planos de todos.
Tom, Georg, Gustav e David não estavam mais na sala de jantar. A casa parecia vazia, o que me ajudava nesse momento.
Peguei meu celular no bolso e disquei sem pensar duas vezes para Nanda que não demorou ao atender.
- Samy? Como você está? – Nanda esbanjava alegria.
- Não importa. Pode me buscar agora na avenida? Depois conversamos. – Fui o mais direta que pude.
- O Bill irá junto? – Nanda diminuiu seu tom de excitação para um preocupado.
- Não. Apenas venha me buscar. – Finalizei e desliguei o celular.
Caminhei até a porta e saí dando uma ultima olhada na enorme casa que foi o maior lar de meus sonhos.
A avenida já estava escura, as arvores tampavam os raios do sol que já sumia ao horizonte.
Sentia-me vazia, sentia que depois de tudo, agora permaneceria vazia para sempre.
Caminhei na avenida, o vendo gélido me fazia tremer e já me fazia sentir falta dos braços calorosos de Bill me envolvendo para me proteger do frio. Será que eu estava fazendo a coisa certa? Será que esse seria o melhor caminho? Já estava começando a me arrepender, mas eu não podia, não tinha escolha, pelo menos era o que parecia.
Um taxi vinha ao longe e se aproximava cada vez mais de mim até parar ao meu lado.
- Entre Samy. – Nanda abriu a porta com uma expressão séria que logo se derreteu ao ver meus olhos já mergulhando em lagrimas. – Por favor, me conte o que aconteceu. – Nanda suplicou enquanto seguíamos rumo ao seu hotel.
- Eu não podia deixar Bill desistir de uma turnê apenas por minha causa. Eu não quero interferir nesse seu sonho, eu não quero privar-lo do que ama. Eu preciso voltar ao Brasil com você Nanda. – Falei enquanto deixava minhas lagrimas escorrerem pelo meu rosto.
- Sinto em lhe dizer, mas você está privando ele do que ama agindo dessa forma também. Você está privando ele de você. – Nanda me abraçou tentando me consolar.
- Eu voltaria depois da turnê, era apenas até a turnê acabar, mas... ele nunca mais irá me perdoar, eu o magoei, eu sei disso. Eu tive que mentir, ele nunca me deixaria ir, e apenas me restou mentir. – Enterrei o rosto em seu ombro e ela me abraçou mais forte ainda.
- Por maior que seja a magoa, quem ama nunca esquece. – Nanda continuava me abraçando.
Chegamos ao seu hotel e já estava escuro por completo, a noite caia linda e estrelada do lado de fora, assim como nas maldivas, me fazendo lembrar-se de momentos que daria qualquer coisa para nunca serem perdidos em minha mente e me deixar lembrar exatamente de como era o sabor, o cheiro, o calor e o toque.
A noite foi longa, eu não conseguia dormir, eu queria voltar, apenas isso. Mas já estava feito, Nanda havia se encarregado de comprar passagens para o dia seguinte, a decisão havia sido minha, para não me dar tempo de voltar atrás.
Já eram quatro da manhã, e meus olhos estavam fixos no teto do quarto. O que era uma noite de sono sem ter-lo ao meu lado? Sem ter seu braço me envolvendo, sem seu peito como meu travesseiro e principalmente sem minha cantiga de ninar favorita, as batidas de seu coração. Sentia-me morta.
Eram cinco da manhã quando meu celular tocou. Hesitei em atender, mas não era o celular de Bill nem algum numero que eu conhecia.
- Alô? – Atendi com um pouco de receio.
- Samy, eu entendo o porquê que você fez isso, não precisa de explicações. Mas me ouça, depois do que aconteceu, Bill decidiu marcar o vôo para hoje. Ele não acredita em minhas palavras, ele está inconsolável, eu não sei o que fazer. Apenas lhe peço que apareça hoje no aeroporto, nem que seja apenas para mostrar que era tudo mentira. Já está marcado o vôo, não terá como ele voltar atrás. – Georg sussurrava ao celular.
Lagrimas quentes escorriam pelo meu rosto, Georg estava certo, ele não poderia voltar atrás, essa era minha única chance de conseguir seu perdão.
- Á que horas será o vôo? – Perguntei entre soluços.
- Já estamos á caminho. Por favor Samy, apareça. – Georg sussurrou mais uma vez e desligou.
Peguei um casaco de Nanda e atravessei o quarto sem fazer ruídos, saindo do quarto e indo até a rua.
Já havia um taxi estacionado á frente do hotel. Cruzei os dedos para que ele falasse inglês e entrei.
- Por favor, me leve até o aeroporto. – Pedi.
O rapaz encapuzado que estava no banco do motorista assentiu logo depois que me sentei no banco de trás, e ligou o carro indo estrada á dentro.
Meus olhos não desgrudavam da janela, eu precisava chegar o mais rápido possível.
- Decidiu voltar ao Brasil querida Samantha? – Uma voz rude cortou o silencio. Eu conhecia aquela voz muito bem.
- Mike? – Senti meu corpo todo congelar. O motorista era Mike, como eu não pude perceber?
- Sim. Estava com saudades? – Mike riu.
- Mike, por favor, pela sua mulher e seu filho, me deixe sair. Eu não estou mais namorando com o Bill, está satisfeito? Apenas preciso pegar um avião urgente para a Argentina. – Menti.
Mike riu enquanto parava em um farol com sinal vermelho. Eu precisava sair daquele carro.
Mike se distraiu enquanto pegava um maço de cigarros no porta luvas, e então consegui abrir a porta do carro e correr para a avenida. Escutei barulho de tiros, me abaixei imediatamente e me escondi atrás de outro carro.
Eu sentia meu coração pulsar aceleradamente, agora minha vida estava prestes a acabar á qualquer segundo. Tudo estava errado, eu devia ter aceitado a decisão de Bill, eu devia ter sido compreensiva, eu devia ter tentado conversar com ele, mas não, eu havia escolhido o caminho errado.
Os tiros continuavam, apenas fechei meus olhos e desejei que tudo acabasse rápido, mas senti alguém me puxar pelo braço.
- Por favor, venha comigo. – Um senhor de cabelos brancos tentava me levantar e colocar dentro de seu carro, no qual eu estava escondida. Eu o obedeci e entrei imediatamente. Mike continuava atirando, mas para os arbustos, ele não havia me visto dentro do carro.
O senhor ligou o carro e saiu o mais rápido possível da avenida.
- Obrigada. – Agradeci enquanto recuperada as batidas normais de meu coração.
- Não agradeça, era meu dever salvar-la. Meu nome é Louis. – Ele sorria.
- Louis, você poderia me levar até o aeroporto? – Pedi enquanto passava as mãos tremulas pela minha barriga, tentando de alguma forma inútil saber se meu filho estava bem.
Louis assentiu e logo estávamos no aeroporto.
- Obrigada novamente e... meu nome é Samantha! – Sorri para ele quanto saia do carro e corria para dentro do aeroporto.
Eu não os encontrava em nenhum lugar. O desespero tomava conta de mim á cada segundo mais, até que decidi perguntar para um dos seguranças do portão da pista de vôo.
- O vôo está quase saindo. – Ele me respondeu seriamente.
Eu não podia deixar. Passei pelos seguranças correndo e eles me seguiram pela pista. O avião estava pronto para decolar.
- Bill! Bill! Bill! – Eu gritava sem sucesso enquanto corria em direção do avião.
Eu podia ver Tom na janela, Gustav á sua frente e Bill isolado á duas janelas á frente.
Continuei gritando, mas nenhum deles conseguia me escutar. Então peguei meu celular e disquei o numero de Bill. Ele olhou o celular, mas não atendeu. Os guardas então me alcançaram, eu não tinha nenhuma escolha agora, arremessei meu celular na janela de Bill e ele olhou imediatamente. Seus olhos eram de espanto, ele se levantou imediatamente enquanto batia na janela para que me soltassem, mas não adiantou. Todos olharam também, e foram em direção da sala do piloto, mas já era tarde demais, o avião entrou em movimento.
Eu não podia fazer mais nada, apenas deixar que me levassem enquanto eu observava o avião decolar e a razão de minha vida sumir naquele enorme céu alaranjado do nascer do sol.