sábado, 27 de novembro de 2010

Para sempre você - cap. 92

Não havia absolutamente nada que eu podia fazer agora, apenas voltar ao Brasil e dar tempo ao tempo, por mais que isso causasse certo medo dentro de mim.
Sai do aeroporto aos prantos, desejando poder voltar no tempo, ou até mesmo deixado que Mike me levasse, seria um bom castigo para mim.
Nanda estava na porta do aeroporto com as mãos tremulas pousada sobre seu rosto retorcido em uma expressão de preocupação.
- Nunca mais faça isso! Eu pensei que nós tínhamos te perdido no tiroteio que teve na avenida. – Nanda falava soluçando.
- Deveriam mesmo. – Respondi passando reto por ela.
- Aonde você vai? Daqui uma hora pegaremos vôo. Pare de drama! – Nanda me repreendeu.
Ela não sabia o que havia acontecido realmente, ela não fazia a mínima idéia do quanto me doía tudo aquilo.
- Para onde mais eu poderia ir? – Parei e me sentei na calçada enquanto me afogava em lagrimas.
- Você fez isso pelo bem de vocês dois, não foi?! Não foi errado. Pare de se culpar, ele te ama, ele vai te perdoar. – Nanda colocou a mão sobre meu ombro tentando me consolar, mas era em vão. Eu não podia enganar o medo que sentia dentro de mim. Eu não era a privilegiada da história, se Bill quisesse uma nova namorada, noiva, esposa, o que fosse, ele apenas estalaria os dedos e apareceria a garota mais bela do mundo em sua frente, e eu havia tido uma única chance de poder viver e morrer ao lado de quem eu mais amava no mundo, mas minhas chances sempre foram delicadas, e eu estraguei tudo. Por mais que Bill me amasse, quem poderia me garantir que ele voltaria para mim agora? Ninguém.
Rendi-me aos pedidos de Nanda e entramos no aeroporto para comermos algo antes de seguir viajem. Eu não consegui pronunciar uma palavra que fosse, eu não sentia fome mas Nanda me obrigou á engolir a comida, e a imagem de Bill na janela do avião me assombrava.
Passaram-se uma hora e embarcamos no avião para o Brasil. Doía-me ver a Alemanha ficando para trás, todo o meu sonho abandonado, minha nova família, meu novo lar, tudo ficava distante agora... muito distante.

(...)

- Samy, você vai se atrasar para a aula! – Nanda gritava meu nome pela casa.
Acordei assustada e olhei no relógio. Faltavam dez para ás sete da manhã, eu estava atrasada.
Levantei ás pressas para me arrumar. Prendi meu cabelo e coloquei a mala no ombro esquerdo e fui em direção da cômoda quando me deparei com o colar.
Já havia se passado um mês e meio, e nunca mais havia ouvido falar sobre Bill. Ele nunca havia me ligado, nem mesmo mandado uma carta. Eu não tinha mais esperanças, pensar em Bill agora era algo delicado para mim, eu era obrigada a aceitar essa nossa distancia, pois tudo havia sido culpa minha. Eu apenas procurava não pensar, aquilo causava uma dor infinita dentro de mim, algo incurável, insuportável, uma saudade tão profunda de cada detalhe que chegava á me anestesiar só de lembrar algum toque dele. Meu único motivo de seguir em frente hoje seria minha filha crescendo dentro de mim. Sim, era uma menina, saudável e provavelmente linda. Nanda havia ido ao médico comigo começar meu pré-natal, e confesso que não existia algo mais emocionante que escutar o coração de minha filha batendo forte e alto na aparelhagem. Eu queria tanto que Bill estivesse lá naquele momento.
Voltei meus olhos para minha mão, o anel ainda estava intacto em meu dedo. Durante todo esse tempo eu sempre procurei não olhar-lo, mas também não o tirava de meu dedo para absolutamente nada. Será que Bill pensava em mim ainda?
- Samy! – Nanda gritou novamente.
Peguei o colar e o coloquei no pescoço, depois de um mês e meio com a falta dele em meu pescoço, e corri para fora da casa.
- É sua ultima semana no supletivo e você ainda chega atrasada! – Nanda me bronqueava.
- Por isso mesmo, a boa aluna também tem que ter seus dias de má aluna. – Brinquei.
O ônibus não demorou á chegar. Nanda havia conseguido recuperar seu trabalho de antes e eu estava terminando o supletivo e trabalhando á noite como secretária. Conseguíamos uma renda de um salário mínimo, mas estávamos felizes com nossos salários. Nanda trabalhava um ponto antes de minha escola, por isso íamos todos os dias juntas. Sentamos no banco do fundo do ônibus e Nanda me passou um papel dobrado.
- O que é isso? – Perguntei com ironia, e ela deu um leve sorriso no canto dos lábios.
- Abra. – Nanda repreendeu um sorriso largo.
Abri e havia vários números anotados.
- Que números são esses? – Perguntei sem entender.
- Tom me ligou ontem. Esse é numero do telefone do quarto de Bill. – Nanda abriu o sorriso antes repreendido.
- Porque eu ligaria? – Amassei o papel e o joguei no chão do ônibus.
Nanda me olhou com as sobrancelhas unidas e se levantou para descer em seu ponto.
- Você deveria deixar de ser tão burra e perceber que Bill não te ligou até hoje porque você destruiu seu celular na janela do avião. – Nanda disse por fim e saiu do ônibus.
Senti um choque percorrer por todo meu corpo. Levantei para procurar o papel, mas eu havia o perdido.
O ônibus parou em meu ponto, mas eu ignorei, eu precisava encontrar aquele papel. Abaixei-me no corredor do ônibus olhando embaixo dos bancos. O cobrador me olhava com curiosidade.
- Algum problema, garota? - Ele me interrompeu.
- Eu perdi um papel muito importante, eu preciso encontrar-lo. – Disse gaguejando de desespero.
O cobrado deu de ombros e me ignorou.
Continuei procurando até o ônibus parar em seu ponto final. Eu já havia vasculhado o ônibus inteiro e não havia encontrado absolutamente nada. Provavelmente ele havia voado para fora em uma das vezes que a porta se abrira.
Sentei no banco dos fundos e comecei a chorar com soluços altos sozinha naquele ônibus, até meu celular tocar.
Olhei no visor, o numero era desconhecido, diminuindo ainda mais a minha vontade de atender, mas atendi por fim.
- Alô? – Engoli os soluços.
A pessoa que estava na linha permaneceu muda.
- Você me liga e me faz perder meu tempo atendendo para ficar mudo? – Perguntei com ignorância.
- Eu apenas precisava ouvir a sua voz. – Uma voz masculina e doce recitava cada palavra como se as cantasse em uma leveza angelical de uma brisa fresca de verão.

Um comentário:

  1. Continua a me surpreender com cada cap.
    As coisas acontecem em um ritmo cada vez mais intenso.

    Nanda é realmente uma amiga maravilhosa! A Super-Nanda ushus.
    Uma pesonagem impecável.
    -
    O.M.G! Samy cabeça dura, como joga um papel tão importante?
    Eu aposto que a pessoa ao telefone era o Bil!!!
    Tem que ser!
    Deve ser!
    É vatalício que seja!!!

    Impecavelmente involvente.
    Anseio pelo 93º cap. *o*

    ~Ceh!~

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