Olhei curiosa para o senhor de cabelos brancos que acabara de guardar o ultimo medicamento em sua bolsa. O que ele queria falar comigo?
Passei á ficar ansiosa, sem ter a mínima idéia do que ele queria. Mil coisas se passaram pela minha cabeça, mas nenhuma se encaixava.
- Bom Samantha, eu não sou médico especializado em uma determinada área. Meus pacientes são aqueles que precisam de mim para coisas simples, como machucados, doenças virais, enxaquecas e quebra de alguma parte óssea, por isso que atendo na própria residência das pessoas, eu não necessito de consultório, eu carrego tudo aqui em minha bolsa. – Ele deu dois tapinhas em sua bolsa enquanto falava.
Eu não estava entendo á onde ele pretendia chegar.
- Mas como qualquer bom médico, eu tenho minhas duvidas, e toda duvida é resolvida á partir de uma resposta coerente, ou seja, á partir de exames. Bill comentou de seus desmaios e tonturas. Podem ser falta de alimentação adequada, problemas neurológicos ou milhares de diversas coisas. Mas, antes de qualquer coisa, eu gostaria que você procurasse um ginecologista. – Ele finalizou.
- O que? – Arregalei os olhos para ele assustada.
- Eu sei que você me compreende. Não estou julgando absolutamente nada Samantha, apenas seria um bom começo para saber o que realmente está te provocando esses sintomas. Mas isso será apenas se esses sintomas continuarem, o que eu acredito muito que não iram, depois que você relaxar um pouco e colocar sua alimentação em dia. – Ele respondeu com um sorriso leve, formando ruguinhas no canto dos olhos.
Eu assenti e sorri forçado para ele.
Dr. Peter pegou sua bolsa e a colocou no ombro esquerdo e caminhou até a porta do quarto acenando para mim com animo. Eu acenei de volta.
Como assim?
Olhei fixamente para o chão enquanto tudo o que o Dr. Peter havia dito, se repassava em minha mente com cuidado.
Não! Ele estava achando que eu estava... grávida?
Era difícil até para pensar na conclusão dele. Ele estava totalmente enganado quanto á isso! Tudo aquilo era fruto de minha falta de alimentação! Claro que era!
Bufei rejeitando a conclusão do médico e cruzei os braços ainda encarando o chão.
Eu não ia fazer aquela idéia me preocupar, eu estava disposta á esquecer-la. Eu também não ia colocar aquela idéia na cabeça de Bill. Aquilo que o médico disse acabou com um ponto final irremovível.
Bill entrou no quarto segurando uma bandeja e logo expulsei minha expressão emburrada para bem longe.
Senti-me uma doente crônica assim que percebi que era comida que estava em cima da bandeja.
Bill colocou a bandeja sobre a cama. Havia dois pratos de Panquecas integrais de frutas e dois copos de suco de laranja. Parecia saudável e interessante seguir a dieta vegetariana de Bill.
Bill sentou-se junto comigo na cama com um sorriso lindo que me derreteu por completa.
- O que o Dr. Peter quis falar com você ? – Bill tocou no assunto enquanto pegava um pedaço da sua panqueca.
- Nada demais. Apenas me aconselhou á ir á um médico especialista se caso continuar minhas tonturas e desmaios. – Dei de ombros e peguei um pedaço da minha panqueca. Era uma delicia.
Bill sorriu com os lábios fechados e me deu um beijo na testa.
Comemos enquanto conversávamos, contamos um para o outro nossas aventuras de infância e rimos bastante. Era um momento totalmente descontraído, mal notávamos que já se passava das três da manhã.
Havia sido um dia muito cansativo, mas eu não sentia necessidade de dormir, eu queria passar todos meus minutos e segundos com Bill, eu não queria perder tempo fechando meus olhos e me desligando da realidade que agora era mil vezes melhor que um sonho.
Fui banhar-me e logo depois me deitei na cama junto de Bill, colocando minha cabeça sobre seu peito enquanto ele acariciava meu rosto com sua mão suave.
Ele estava muito cansado e logo pegou no sono. Eu me maravilhava ao ver-lo dormir com tamanha serenidade e sua respiração lenta entre lábios.
O som de sua respiração era como uma cantiga de ninar, e logo deixei o sono tomar conta de mim também.
Era aquele sonho de novo.
- Mamãe! Mamãe! – A garotinha gritava desesperadamente em uma floresta escura. Tudo estava ainda mais embaçado, a névoa forte e esbranquiçada agora parecia neve dançante pelo ar. Eu nunca conseguia chegar até a garotinha que chorava desesperadamente pela mãe. Eu ansiava por ver seu rosto. Ver quem era ela.
O choro dela estava mais próximo agora, como se estivesse em minha frente. Mas eu a procurava entre as arvores e não a encontrava.
- Mamãe! – O grito dela ecoou agora parecendo vir de trás de mim. Olhei esperançosa, mas ela não estava ali.
De repente o vendo soprou fortemente na névoa de gelo e pude avistar uma garotinha de uns cinco anos de idade ao longe correndo entre as arvores. Seu cabelo comprido era negro e liso, destacando sua pele branquinha com um toque pêssego. Eu gritei por ela e ela me olhou por um momento. Seus olhos eram de um castanho quase mel. Seus traços faciais eram familiares.
Tentei alcançar-la novamente, mas ela sumiu entre a névoa de gelo novamente.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
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